Sou cliente assíduo dum restaurante/café, em frente à minha casa, que é propriedade dum autentico “Nazi da Salada” (para os fãns de Seinfeld, esta nomenclatura faz sentido), e não me estou só a referir as características fisionómicas do dito cujo, cuja semelhança com um tal de Adolfo, não passam apenas pela mesma altura, o mesmo porte esquelético, o mesmo bigode, apesar do deste estar mais comprido em largura, é igualmente ridículo, e até uma calvice disfarçada pelas patilhas esquerdas que vão dum lado ao outro da cabeça.
A diferença substancial está, que um era dono dum império, e o outro é dono dum restaurante, ornamentado com bandeiras e galhardetes de vários clubes de futebol nacionais, e com várias garrafas de licor espanhol em forma de touros, toureiros, sevilhanas e outras coisas disformes que a minha insensibilidade artística não descortina o que sejam, à porta está uma Abelha Maia eléctrica, daquelas que os pais pagam uma moeda de euro para verem os filhos sossegados durante o minuto que dura o entretenimento, lá dentro esta um enorme aquário igual aos das marisqueiras, mas em vez de marisco contem três ou quatro peixes vermelhos, de cinco centímetros, lá dentro, e que até hoje ainda não foram comidos, logo deduzo que estejam lá também para fazer vista como as bandeiras e as garrafas.
Frequento este café, quase diariamente, há mais de seis anos, e perdi a conta ao número dos empregados que já passaram por lá nesse período, no inicio até tentei meter conversa com eles, ser simpático, até ousei ensinar-lhes os meus hábitos para lhes poupar trabalho, é que eu bebo café sem açúcar e necessito de um copo de agua para não queimar a língua, tive inclusive que me habituar a pedir; -Uma Bica,sff!, pois quando pedia –Um café, sff.! a resposta era invariavelmente; -Quer o quê?, até isso eu lhes ensinei que aquela coisa preta que estava dentro da chávena também podia ser chamada de café, sem que isso fosse um atentado ao bom nome da mesma. Todo este esforço foi em vão, quando me conheciam e estavam habituados a mim, e eu a eles, e até nos cumprimentávamos na rua, lá desapareciam misteriosamente e aparecia outro para o seu lugar, e voltava tudo a estaca zero.
A primeira vez que fui lá, encaminhado pelo meu primo, já há mais de 8 anos, e já aí ele me dizia que havia um empregado novo a cada três meses, facto que justificou com a hipotética precariedade salarial, e por consequência o pessoal não estar disposto a aturar o Hitler por um ordenado mínimo nacional português, pois o é tipo bestialmente chato e estúpido, e à semelhança do seu homónimo, tem um exército de empregados e cuzinheiros a marchar e a rastejar a sua frente em extremo estado de tensão, parece que todos lhe devem e ninguém lhe paga e eu desconfio que seja ao contrario, mas isso é outra conversa.
Guardo vergonhosamente um episódio que se passou comigo há dois anos; era noite, e depois de ir ao congelador, e dar-me conta que tinha acabado o stock de marmitas com comida que a minha mãe me envia semanalmente, as que o meu chef, de nome Micro Ondas, confecciona diariamente para mim, terem acabado, e ter igualmente acabado o pão de forma que a ajudante chef, dona Tostadeira usa para as minhas refeições mais rápidas, resolvi ir então jantar a do Nazi da Salada, já não me lembro o que pedi, mas sei que para acompanhar o prato principal pedi uma salada, a qual se revelou num prato de sal grosso temperado com alface, tomate e alguma cenoura, no fim com é habito no estabelecimento, o Nazi veio perguntar-me se estava tudo em ordem, não sei no que estava a pensar, e distraído disse-lhe que a salada estava um bocadinho salgada, mas que de resto estava tudo impecável, como sempre… o que eu fui dizer… findados dois anos ainda acordo de noite, suado com os gritos que a besta deu à cozinheira por ter-me salgado a porra da salada, já estão a imaginar, não foi promovida… a partir daí nunca mais a vi lá.
Seriamente, já pensei em por um aviso na porta, quer combater a Taxa de Desemprego em Portugal, Não Reclame Aqui!